OS FESTIVAIS DE MÚSICA - Quarta Parte
Realizado em 1983, produzido pelo DCE-UFAL, o III FUM foi um evento que marcou os festivais de músicas em Alagoas.
Vindo mais estruturados de outros festivais, os integrantes do Terra estando atentos aos movimentos populares, que naqueles anos de abertura política se colocavam em oposição à ditadura, resolveu investir em músicas em forma de um hino revolucionário, que apresentasse uma linha de radicalidade do protesto político, ou seja, um reflexo dos movimentos sociais em torno da bandeira da Anistia dos presos políticos, com esse intuito, duas músicas foram cuidadosamente elaboradas: Canto Chão e Raízes.
Canto do Chão, com letra de Edson Bezerra e musicada por Chico Elpídio e César Rodrigues, foi muito trabalhosa, devido a ideia inicial de compor uma música com ritmos variados e que de cara atraísse à atenção não só dos jurados, mas também de quem a ouvisse pela primeira vez, entretanto, existia um obstáculo a ser vencido antes de participar do festival: se adequar às condições da censura, e foi o que aconteceu.
Após o envio das letras para a devida análise da DPF, cinco músicas foram censuradas, sendo necessário negociações dos autores para a liberação das letras das seguintes músicas:
Canto do Chão – Chico Elpidio, César Rodrigues e Edson Bezerra;
Raízes – Chico Elpídio e Eliezer Setton;
Matança do Boi – Antônio Carlos;
Sem remédio e Sem Doutor – Macléim Damaceno;
Renegados – José Gomes Brandão.
Ato contínuo, Edson Bezerra foi convocado para uma audiência no departamento de Polícia Federal/AL, para explicar a letra e modificar algumas frases que, segundo o sensor, eram impróprias naquele momento:
“Passado o susto, quando lá cheguei, fui surpreendido por um senhor gentil, de nome Arivaldo. Logo após me convidar para sentar, o senhor retirou da gaveta minha letra e disse: Ô rapaz, eu queria lhe propor algumas mudanças nesta letra, afinal ela está muito bonita, mas tem umas passagens que não vai dá pra passar. Por exemplo, por que em vez de cor vermelha, você não substitui por cor alegre e em vez de batalhão, outra palavra? E também esta coisa de guerrilha, não dá de jeito algum. Vá para casa, dê uma olhada no que você acha que pode mudar e depois volte,” disse Edson Bezerra.
CANTO DO CHÃO (1º lugar)
Terra do sol, liberdade e ouro
Há de haver aqui, vamos desbravar.
Terra de sal, caminho de gente
Berço de manhãs, muita alegria ainda nascerá aqui.
Sempre é hora de plantar na terra,
O que o fruto traz, construir na luta.
A doce labuta de quebrar os muros
Cantar o mesmo canto, beber do mesmo fel.
Nas manhãs banhar o corpo a sol e sal,
Caminhar nas ruas sempre a libertar
O grito contido, o amor escondido,
Em corações e em gerações.
Trazer no corpo o cansaço
No peito as emoções,
De fazermos sempre um gesto forte em cada mão
Seremos raça e força que arrasta multidões
E olha que esse tempo vem,
De uma cor alegra (vermelha) cor do coração
Seremos um só povo um só mutirão
Teremos terra e trigo sorrisos e canções
E entre palmeiras, vilas e ruas,
Nossos corpo cansados irão repousar.
Latinamente ser, livremente estar
Brasileiramente amar, amar
E ouça lá companheiro e amigo, não espera vem,
Já se toca o sino, já se entoam tantos hinos.
Viva a grande pátria, ò doce mãe gentil.
Terra de sol, terra de sal, terra do mar de anil.
Latinamente ser, livremente está, brasileiramente.
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