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Paulo Renault - parceiro e amigo

Paulo Renault Braga Villas Boas, boêmio, poeta e compositor, nasceu em Maceió, no dia 29 de outubro de 1958. Ainda jovem, casou-se com Márcia Maria Lima, com quem teve dois filhos: Rodrigo e Sérgio Lima Villas Boas. Além de apaixonado por música, foi militante político, influência herdada do avô, Júlio de Almeida Braga, um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro - PVB, em Alagoas. 
Conheci Paulo em minha residência, lá compareceu querendo discutir algumas idéias sobre a cultura musical alagoana, que se encontrava à época estagnada, não existindo referência alguma, ainda vivíamos das lembranças de Reinaldo Costa, autor de Rescordação e do não menos famoso Juvenal Lopes, autor de pérolas como: Maceió, Pisei no Liro e Entre a Cidade e o Sertão, parceria com Marcondes Costa, gravadas por Noite Ilustrada, Marinês e Grupo Terra, respectivamente. 
A conversa foi tão promissora, que nos dirigimos ao Bar do Jaqueira, antigo reduto de boêmios, poetas e músicos, situado ao lado do Mercado Público, e como de costume, nos sentamos e pedimos uma *meiota (metade de uma garrafa de cachaça), limão, laranja e continuamos a digerir a idéia: "reunir os compositores jovens com o propósito de interagir, entretanto, não conseguimos levar adiante nosso propósito". Coincidentemente, nesse período, estavam abertas as inscrições para o II Festival Universitário, promovido pelo DCE/UFAL, oportunidade impar, para nós jovens compositores, aprendermos com os já consagrados veteranos vencedores de festivais: César Rodrigues, Marcondes Costa e Guido Uchôa, o caminho e principalmente os atalhos para galgar situações idênticas. 
Motivado pela efervescência do Festival, tive a feliz idéia de convidar os músicos que tocavam comigo na noite, e outros que conheci: Jorge Quintela, flautista, Cláudio Carlos, baterista e finalmente, Zailton Sarmento, poli instrumentista, tocava: viola, cavaquinho e teclado, para participarem de um novo grupo musical, com propostas próprias e inéditas. Após o convites, apresentei a idéia, logo aprovada por todos, faltando só o nome da banda, posteriormente batizada de Grupo Terra, na qual Paulo Renault teve participação ativa ao meu lado, escrevendo letras com temáticas políticas e nordestinas, questionando sempre a condição social do ser humano, seus desejos e suas fraquezas. 
Durante a existência do Terra, montamos vários shows: Terra à Vista, Gente das Brenhas, Cidade Antiga e por último, Maceió, Cidade Aberta, espetáculo apresentado repetidas vezes no Arena e no Deodoro, montado com vinte e cinco poemas de Paulo, com músicas minhas, em parceria com Geraldo Rebêlo, com exceção de Maceió de autoria de Juvenal Lopes. 
A beleza poética dos poemas de Renault do show Maceió, Cidade Aberta, encontra-se espelhada em livro publicado pela Editora Catavento em 2004, brilhantemente ilustrado por Mário Aloísio, arquiteto e também amigo do poeta.
Antes de seu prematuro falecimento, aos quarenta e cinco anos, dentre tantas composições que fizemos, gravei no meu último CD Dilúvio, uma de nossas parcerias, a música Evolução. 
Paulo, se foi, em mim fica a saudade e principalmente a lembrança do parceiro, amigo e irmão.

Evolução

Lá vem Sabino, vem Lampião
Chapéu de couro, fuzil na mão
Oi quem vem lá, oh! seu menino,
Chapéu de couro, é Virgulino, é Lampião
Galho de mandacaru, ceguei, ceguei
Cego de mandacaru, cheguei, cheguei
Se cego vago no mundo por onde andei
Cada toada que faço, cada cabra que mato
Espinho onde eu te achei ? Espinho onde ?
Sinto o vento vejo a serra
Cobras e escorpiões
Carcará maldito sonha
O sonho das perdições
Mas o cão não se comove
E vê as suas visões
E eu só sonho com Maria
Viver em paz nos sertões
Vem cá cabocla me faz um chamego
Quero esquecer: satanás escorpiões
Vem cá cabocla me faz um dengo
Quero esquecer: satanás escorpiões
E me tire essas visões
Quando a água surgir quero estar sem polícia sem Lampião
Quero estar livre num sonho, capoeira é do mato
Se eu lhe desacato, eu sou do sertão
Sou do sertão, sou do sertão
Eu sou do sertão
Se lhe desacato, sou Lampião, sou Lampião
Valente é o menino, sangrento é o sertão
É Lamp é Lamp é Lamp é Lamp
É Lamp é Lampião
É Lamp é Lamp é Lamp
É Lamp é Lampião
Seu nome é Virgulino
Apelido Lampião

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