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FRAGMENTOS DA MEMÓRIA DE UM TEMPO - GRUPO TERRA

Primeira Parte

A ideia de criar o Grupo Terra surgiu em 1975, e teve como objetivo realizar pesquisas voltadas para o regionalismo, lutar pela permanência das culturas populares, historicamente soterradas pelas narrativas das elites, e principalmente valorizar os poetas e compositores alagoanos, que tinham como temas: o povo sofrido do campo, as questões políticas, a preservação da nossa história, através da manutenção dos inúmeros prédios antigos, que estavam sendo demolidos, os monumentos, que se encontravam em total abandono e por fim, criar uma identidade cultural, através de uma visão prática a partir do localismo das micronarrativas musicais.
O Grupo Terra apresentou-se pela primeira vez em 1976, no altar do Convento de São Francisco, durante o III Festival de Verão, realizado em Marechal Deodoro. Devido à grande aceitação do público, o entusiasmo e a emoção tomou conta de todos, ficando já, naquele instante, definida a data e o local do próximo ensaio. O tema escolhido para a primeira apresentação: uma reflexão temática sobre o nosso rico folclore, as belezas lacustres e marinhas de Alagoas.
TERRA Á VISTA, foi o nome escolhido para o show, que aconteceu em setembro do mesmo ano, no Sérgio Cardoso, mais conhecido como Teatro de Arena, ficando em cartaz em palcos diversos, até meados de junho de 1978.
Primeiro show do Grupo Terra realizado no altar do Convento de São Francisco em Mal Deodoro.









A música escolhida para abertura, foi de autoria de Marcus Vagareza,

MINHA TERRA

Um pedacinho de terra
Cá do norte do Brasil
Do reisado e do fandango
Da chegança e pastoril
Guerreiro chegou a hora de cantar tua origem, do vermelho e do azul,
Desse céu e desse mar, de Manguaba e Mundau
Sol se pondo na avenida, muito amor no coração,
Muita fé muita coragem pra seguir na procissão,
Minha terra tem coqueiros onde o vento faz canção.”

O TERRA durante a sua existência, contou com quatorze componentes: Chico Elpídio, Zailton Samento, Messias Gancho, Pacuã, Zé Barros, Cláudio Carlos, Beto Batera, Elias, Jorge Quintella, Paulinho, Edson Bezerra, Marcus Vagareza, Eliezer Setton e César Rodrigues, quase todos advindos de bandas musicais da época.

Devido à enorme aceitação de todos que assistiram ao primeiro show, algumas personagens se agregaram à proposta do Grupo Terra, entre esses:
Cavalcante Barros, advogado e jornalista, de grande importância para o grupo, ajudava na divulgação dos eventos e as vezes assumia a posição de empresário; o TERRA incluiu em seu repertório duas músicas de sua autoria, uma delas, Penedo, apresentada pela primeira vez, no palco do Cine São Francisco, em Penedo, no show de encerramento do II Festival de Cinema;
Joaquim Alves, professor universitário e jornalista, era um grande incentivador, sempre divulgou as atividades do grupo e por várias vezes acompanhou as apresentações do Terra pelo interior do estado;
Marcondes Costa, psiquiatra, letrista e poeta, dentre muitas atividades, foi um dos integrantes da vida cultural da cidade se Maceió durante os anos 60, tendo participado de festivais de música daquela época. Marcondes compôs com Chico Elpídio, várias músicas para o Terra, e tinha também como parceiro, Juvenal Lopes, compositor alagoano remanescente de rádio da Difusora de Alagoas durante os anos 50, com várias músicas gravadas por grandes artistas da época.
Marcondes é autor do xote ACORDO ÁS QUATRO, que posteriormente virou hino do Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, na voz de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião;
Paulo Renault Braga Villa Boas, jovem intelectual com origem no movimento estudantil, advindo daí as suas letras politizadas e engajadas no momento político, mais adiante, Beto Batera e Eliezer Setton, um capítulo à parte, que entraria no lugar de Marcus Vagareza.
Suetônio Sarmento – oriundo do bairro do Prado, marcou época ao convidar jovens compositores, para juntos trocarem ideias e apresentarem suas composições. Sua proposta era de unir artistas de diferentes propostas musicais, sendo bastante exigente com relação a mensagem contida, era defensor das letras de cunho político social.
Justamente essa mistura de músicos de baile e de intelectuais, deram ao Grupo Terra uma identidade híbrida, no sentido de uma percepção, a qual, diferenciada, possibilitaria uma curiosa construção artístico-cultural na apreensão do imaginário alagoano, uma vez que, ao apuro técnico dos músicos se somavam a percepção do clima político daqueles anos de fins da ditadura militar, pois ao redor do grupo, gravitavam alguns intelectuais de diferentes trajetórias.



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